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Brasileiro desenvolve aparelho portátil que detecta hepatite C em minutos

O pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) João Paulo de Campos da Costa, 26, desenvolveu um equipamento que promete detectar em minutos a infecção por hepatite C, uma doença silenciosa, que pode ser letal. O custo para a produção do dispositivo é de cerca de R$ 430 – uma pequena fração do valor de prateleira dos aparelhos convencionais importados, que chegam a R$ 60 mil.

O aparelho é portátil e tem bateria com autonomia para até 18 exames, o que deve facilitar a realização desse tipo de exame em áreas remotas do país. O Ministério da Saúde anunciou meta de erradicar a doença até 2030.

Outro diferencial, menciona o pesquisador, é o tempo para a apresentação do resultado. São de 10 a 15 minutos por teste.

João Paulo de Campos da Costa, 26, criador do aparelho que detecta hepatite C em minutos

Desenvolvido durante o mestrado na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, o protótipo já teve patente requerida e despertou interesse de fabricantes da área da saúde. São eles que deverão buscar as certificações em órgãos como a Anvisa, antes de o produto ser comercializado.

O público-alvo do invento são laboratórios e, sobretudo, o governo.

“São feitos os testes e os resultados são enviados na hora para o e-mail do médico ou salvos no cartão de memória”, afirma.

Diagnóstico na fase inicial

O sistema funciona com base nas proteínas que os organismos infectados produzem para combater o vírus da hepatite C.

“O sensor tem um eletrodo em que imobilizamos o antígeno. Nós retiramos o sangue, separamos o soro e testamos no novo dispositivo. Se a pessoa tiver anticorpos para a doença, eles vão se ligar ao eletrodo, reduzindo a corrente elétrica. Essa variação da corrente é captada pelo aparelho e enviada como resultado”, explica o pesquisador.

De acordo com Costa, o aparelho tem um grau de sensibilidade que permite, por exemplo, detectar as imunoglobulinas M (IgM), produzidas, em média, 15 dias após o contato com o vírus.

Nos métodos utilizados atualmente, os exames captam infecções por hepatite C só depois de um mês.

Mais de 24 mil casos por ano

Dentre as hepatites virais, a hepatite C é a que tem o maior número de casos notificados. Segundo o Ministério da Saúde, apenas no ano passado foram 24.460 casos da doença, o equivalente a 11,9 ocorrências para cada 100 mil habitantes.

A doença causa cirrose, câncer e pode matar – ela respondeu por 75,3% das mortes por hepatites virais no país de 2000 a 2016 –, mas muitas vezes passa despercebida. De acordo com o ministério, essa invisibilidade é um dos maiores desafios do projeto de erradicação.

O plano de ação do governo prevê tratar todos os pacientes, incorporar novos medicamentos, simplificar o diagnóstico e ampliar a testagem, passando gradualmente dos 6 milhões de testes rápidos do ano passado para 30 milhões em 2025.

“Queremos justamente promover a informação, reforçar a importância do diagnóstico e oferecer mais uma opção, com tecnologia totalmente nacional e mais barata”, afirma Costa.

A hepatite C é transmitida principalmente pelo contato com sangue contaminado – durante a realização de tatuagem ou acupuntura sem a devida esterilização, por exemplo.

Ciência familiar

Costa teve seu primeiro contato com um laboratório ainda criança. Ele se lembra de visitar as instalações da USP em Ribeirão Preto com o pai, o biomédico Paulo Inácio, e acabou desenvolvendo gosto por ciência.

“Desde a graduação em engenharia elétrica, eu queria criar equipamentos para a área da saúde. É interessante poder melhorar a saúde das pessoas, os diagnósticos e o tratamento. Acho que foi a partir dele [do pai] que essa vontade foi crescendo”, diz.

“É um sistema com uma aplicabilidade muito grande, que pode ser adaptado para outras doenças, e que foi inteiramente confeccionado no Brasil. Nada foi importado. Isso é um orgulho e, como pai, é muito gratificante ver os filhos atuando em áreas que podem beneficiar as pessoas”, diz Paulo Inácio Costa, pai de João Paulo e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCFAR) da Unesp, em Araraquara.

No laboratório da FCFAR, foi produzida a proteína do vírus usada para calibrar o sensor. Lá, também foram realizados os testes com 30 amostras de sangue de pacientes atendidos na região e catalogadas para participar da pesquisa.

UOL Notícias – Ciência e Saúde
Stefhanie Piovezan

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